Noor Inayat Khan: a princesa indiana e espiã britânica que se tornou uma heroína de guerra
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Noor Inayat Khan: a princesa indiana e espiã britânica que se tornou uma heroína de guerra

Guerras são movidas por ruidosos exércitos e poderio bélico, mas também são vencidas por trabalhos sigilosos e algumas pessoas que, no anonimato, dão suas vidas pela liberdade de nações inteiras. A presença de mulheres em momentos-chave de grandes conflitos vem sendo posta sob os holofotes e uma princesa indiana e espiã britânica é uma cujo trabalho foi responsável por mudar rumos e trilhar caminhos para a vitória dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Por décadas, sua história quase foi esquecida. Quase.

Noor Inayat Khan carregava em si uma ancestralidade plural. Filha de pai indiano e mãe americana, nasceu em 1914, em Moscou, na Rússia, passou parte de sua infância na Inglaterra, cresceu na França e levava em suas veias o sangue dos antepassados. Descendente de Tipu Sultan, conhecido como o Tigre de Mysore, que se recusou a se submeter ao governo britânico, Noor Inayat Khan era uma princesa, muçulmana e pacifista.

Ainda em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, a família de Noor migrou para a Inglaterra, onde permaneceu por seis anos. Nascida em uma família de artistas, com um pai músico e uma mãe poeta, desde nova a princesa demonstrava uma sensibilidade ímpar que transparecia nos poemas que ela também viria a escrever.

Aos seis anos, ela e sua família se mudaram para a França e passaram a morar nos arredores de Paris. A família gozou de anos felizes até a morte de Hazrat Inayat Khan, pai de Noor. Com a mãe devastada pela perda, coube à filha mais velha assumir as responsabilidades domésticas, aos 13 anos. Entre cuidar da mãe, de seus três irmãos e se dedicar aos estudos, Noor começou a escrever poemas, muitos deles dedicados à matriarca.

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Ao final da adolescência, Khan se graduou em Psicologia Infantil em Sorbonne, além de se dedicar à música, mais uma de suas heranças familiares. Dando vazão à sua veia artística, ela começou a escrever histórias para crianças. Com o tempo, foi se tornando reconhecida pelo trabalho e adquirindo certa segurança vivendo de suas histórias, tendo escrito para alguns jornais, revistas e até mesmo para rádios francesas. Um de seus trabalhos publicados, Twenty Jataka Tales, é uma adaptação das histórias ancestrais do budismo que lhe eram contadas quando mais nova.

Em 1939, quando a Segunda Guerra Mundial teve início, Noor Inayat Khan se voluntariou para a Cruz Vermelha, na França, treinando como enfermeira. Em 1940, quando a guerra atingiu um marco e a Alemanha invadiu a França, Noor e sua família abandonaram sua casa e migraram, assim como milhares de outros, deixando Paris pouco antes de a cidade cair nas mãos dos nazistas.

Foto: Nekbakht Foundation

Apesar de uma criação pacifista, tanto Noor quanto seu irmão Vilayat se alistaram para as forças aéreas em solo britânico. A princesa acreditava que era possível atuar de forma ativa em uma guerra contanto que o ódio não fosse sua motivação.

A revolta contra governos opressores e injustiças sociais serviria como um propósito para Noor ao longo de toda a sua vida. Ao contrário de muitos outros, ela não foi obrigada a ir à guerra, mas o fez por seu desejo intrínseco de tornar o mundo um lugar melhor, ajudando da forma que pudesse. Noor se alistou à Women's Auxiliary Air Force (WAAF), e seu trabalho e habilidades excepcionais chamaram a atenção de um setor em específico.

O Special Operations Executive (SOE) foi idealizado para ser um setor ultrassecreto de espionagem e atuação direta de agentes em campo durante a Segunda Guerra Mundial, criado especialmente por Churchill na guerra contra o fascismo na Europa. Ao contrário do Military Intelligence Section 6 (MI6), o serviço secreto de inteligência britânica, o SOE tinha como objetivo dar suporte à resistência em países ocupados pelos nazistas, se valendo de meios não ortodoxos.

A Inglaterra era o único país europeu que ainda resistia à força militar alemã e o papel dos agentes secretos era fundamental para garantir que isso continuasse. Os agentes do SOE, infiltrados nos países ocupados, eram responsáveis por tentar destruir, de dentro para fora, o regime nazista e facilitar a vitória dos Aliados. Sabotagem industrial e militar, greves, ataques terroristas contra líderes militares e manifestações são alguns dos exemplos.

Durante a Segunda Guerra, as forças de Hitler sabiam como suprimir movimentos internos e forças estrangeiras para além do poderio militar e bélico. A Gestapo, abreviação de Geheime Staatspolizei, era a Polícia Secreta do Estado, uma organização alemã paralela que investigava, prendia e torturava quem se opunha ao Reich. A Gestapo era temida por restringir direitos civis em prol de manter o controle da população, atuando acima da lei. Prender agentes secretos era tarefa da Gestapo.

Em meados de 1942, foi permitido que mulheres também atuassem como agentes em campo, isto porque acreditava-se que elas poderiam se sair melhor desempenhando atividades corriqueiras, se moverem pelos lugares sem levantar tantas suspeitas e, consequentemente, sendo menos interrogadas pela Gestapo do que os homens da época.

O recrutamento para o SOE era feito em segredo, majoritariamente por indicação e ter aptidão com idiomas era essencial. Apenas saber inglês não era o suficiente, até mesmo outras línguas não significavam uma chance na organização se o candidato tivesse qualquer resquício do sotaque britânico. Para um espião, a aparência também era primordial. Isso porque era preciso se passar por um francês para um conterrâneo. A linguagem precisava ser idêntica à de um nativo, os costumes deveriam refletir a cultura parisiense, os trejeitos precisariam enganar até o mais astuto dos agentes duplos.

As exigências eram rigorosas porque um candidato que cometesse qualquer erro que pudesse desmascará-lo colocaria em risco não apenas a si mesmo, mas toda a operação e outros agentes em campo. Ele precisava ser perfeito. E, aos olhos do SOE, Noor era a escolha ideal. Fluente em inglês e francês, tendo passado grande parte de sua vida entre a Inglaterra de Churchill e a França de De Gaulle, Noor seria valiosa para os Aliados, atuando como uma ponte entre os agentes em campo nos territórios ocupados e a inteligência britânica.

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A radiocomunicação teve um papel fundamental nos rumos da guerra. Por meio de mensagens recebidas, interpretadas e transmitidas pelos operadores, em sua maioria usando o Código Morse, era possível definir estratégias e fazer decisões mais assertivas, que poderiam representar vitórias valiosas.

Foto: Shrabani Basu/PA Wire

Rádio operadores tinham o trabalho mais perigoso de todos os agentes porque a possibilidade de serem capturados era enorme. Esses agentes tinham mais chances de terem seus disfarces revelados, uma vez que precisavam andar com seu equipamento o tempo todo e era praticamente impossível dar uma explicação para seu uso, caso fossem interrogados.

Em 16 de junho de 1943 sob o codinome Madeleine, Noor Inayat Khan, ou Nora Baker, seu pseudônimo britânico, foi a primeira mulher rádio operadora a ser enviada para a França ocupada. Noor foi designada para atuar na rede liderada por Emile Garry, em Paris e, em poucas semanas, já era a única remanescente.

Noor contou com inteligência e astúcia para se manter viva, seguindo como o único elo do SOE entre Paris e Londres, permitindo com que armas e recursos fossem entregues com sucesso aos Aliados, além de garantir o transporte seguro de agentes entre os territórios. Diante do perigo, foi sugerido que ela retornasse à Inglaterra, mas decidiu continuar em solo francês.

Na Paris completamente tomada pelos nazistas, a chance de sobrevivência era pequena porque era preciso usar o metrô e vários pontos de revista da Gestapo. A estimativa de vida de alguém com o cargo de Noor em campo, na época, era de seis semanas, em média. A Gestapo sabia que se pegasse o operador de rádio, o único link entre os agentes em campo e a Baker Street, eles teriam informações essenciais.

Durante meses, Noor conseguiu se esquivar da Gestapo, mudando o visual e se locomovendo com eficiência e rapidez, nunca ficando por muito tempo ou fazendo suas transmissões em um mesmo lugar. Mesmo para as pessoas próximas, Noor se apresentava como Nora Baker, um nome mais tipicamente britânico para não colocar em risco o irmão, que ainda estava na França. E foi como com este nome que a princesa foi traída. Historiadores divergem quanto a quem foi o traidor que entregou Noor à Gestapo, mas em outubro de 1943, ela foi capturada e presa.

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Sua teimosia se equiparava à persistência do interrogador. Mesmo assustada, com medo por si, por sua mãe e por um de seus irmãos que ainda morava em Paris, ela se recusou a cooperar. Recusou a comer e responder as perguntas, protegendo não só agentes, mas inocentes que faziam parte da rede da SOE e que ajudaram, de alguma forma, aqueles em solo francês.

Após duas tentativas de fuga malsucedidas, e depois de se recusar a assinar um termo em que se comprometia a não repetir o feito, ordens diretamente de Berlim instruíram que ela fosse enviada para a Alemanha, uma vez que era considerada perigosa demais para ser mantida em um local sem a supervisão adequada.

Ao contrário dos outros prisioneiros, por conta de suas fugas, ela recebia rações mais escassas de comida, não lhe era permitido sair da cela, tinha suas mãos e pés acorrentados de forma que tornava impossível que se limpasse e se trocasse sozinha, além de não ter contato com o exterior e outros prisioneiros. Shrabani Basu, biógrafa de Khan, compartilha relatos de que o tratamento diferenciado e brutal que a espiã recebia também se devia à cor mais escura de sua pele em comparação a outros prisioneiros.

Estima-se que ao menos 20 mil campos de concentração foram usados entre 1933 e 1945, na Alemanha e em outros territórios ocupados pelos nazistas. Dachau foi o primeiro a ser construído e seria ele o local para onde Noor seria levada em seus últimos dias. Uma noite antes de ser assassinada, Noor foi agredida, violentada e torturada. Em 13 de setembro de 1944, a princesa e espiã foi executada.

Por muito tempo não se teve notícias de seu paradeiro. Apenas alguns anos após a guerra, por meio de pessoas que tiveram contato com a agente na época em que estava presa, foi possível afirmar, com certeza, que Noor havia sido executada em Dachau, menos de sete meses antes de o campo ser libertado pelos Aliados. Instantes antes de ser morta, Noor proferiu sua última palavra: liberté. Liberdade.

Durante décadas, Noor foi lembrada como uma figura-chave na luta contra o nazismo e como um exemplo de integridade, lealdade e justiça. À época, quando questionada pelos recrutadores britânicos acerca de seu posicionamento quanto à independência da Índia, Noor não mentiu e se mostrou favorável à luta por direitos dos indianos colonizados. Anos após a sua morte, seu irmão chegou a dizer que acreditava que Noor, se sobrevivesse à guerra, provavelmente se colocaria ao lado da luta pela independência.

Postumamente, ela foi condecorada com a George Cross, a mais alta honraria civil do Reino Unido, e uma Croix de Guerre da França. Em 2012, Noor ganhou um busto de bronze instalado no terreno de sua antiga casa em Londres, inaugurado pela princesa Anne.

Em 2020, Noor foi a primeira mulher de origem sul-asiática a receber a Blue Plaque, uma honraria dedicada a figuras importantes para a história britânica. Sua placa azul foi colocada na Taviton Street em Bloomsbury, Londres, onde morou pouco antes de ser enviada à França para cumprir sua missão.

Sua história, assim como a de várias mulheres cuja presença foi fundamental para a vitória dos Aliados, vem sendo redescoberta, e suas contribuições, reconhecidas. Noor Inayat Khan deixaria para sempre sua marca como uma das mulheres que deu a vida pela liberdade de milhões.

Parte do legado de Noor chegou até nós por meio de suas histórias e registros. Nesta edição de colecionador, publicada originalmente em 1939 e recontada por Noor Inayat Khan, uma heroína de guerra, reúnem-se vinte fábulas e enredos recheados de bondade, virtude, respeito e compaixão. Conheça Fábulas Budistas: 20 Contos Jataka!

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