O que é o romance industrial?
Grandes romancistas sempre fizeram uso da literatura para denunciar as mazelas da sociedade e para tentar aproximar pessoas de realidades completamente diferentes. Durante o século XIX, um subgênero em específico se tornou um dos mais populares da ficção vitoriana e segue como referência para entendermos não apenas o período ao qual representa, mas para pensarmos o impacto da literatura na sociedade.
A Era Vitoriana, período no qual a Rainha Vitória reinou sobre a Inglaterra, foi marcada por avanços tecnológicos e transformações sociais, econômicas e culturais. Se por um lado o Império Britânico vivia uma era de ouro, por outro as contradições internas denunciavam uma sociedade cada vez mais desigual, extremamente afetada pelos desdobramentos da Revolução Industrial.
A industrialização e a busca por progresso rápido resultaram em uma polarização ainda maior da sociedade. As condições de trabalho e as relações entre trabalhadores e empregadores tornaram-se o enredo dos famosos romances industriais, especialmente durante a Era Vitoriana, quando a leitura de romances se tornou mais popular, principalmente entre a classe média.
O romance industrial é um subgênero do romance vitoriano também conhecido como “romance de problema social” ou “romance de condição” da Inglaterra, sempre tratando principalmente da vida das classes trabalhadora e média, das mudanças no sistema educativo, o industrialismo, o desemprego, as histórias de amor entre pessoas de classes sociais diferentes e muitas outras questões relativas à Revolução Industrial.
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De acordo com Mehmet Akif Balkaya, em The Industrial Novels: Charlotte Brontë’s Shirley, Charles Dickens’ Hard Times and Elizabeth Gaskell’s North and South, os autores do período narravam a situação dos trabalhadores e as suas duras condições de trabalho e de vida, numa tentativa de fazer a classe média simpatizar com a situação precária dessa parcela da sociedade.
Autores como Charlotte Brontë, Elizabeth Gaskell e Charles Dickens, em seus romances industriais, criticaram a exploração dos trabalhadores das fábricas, a repressão das mulheres por um sistema patriarcal e a condição dos trabalhadores na Inglaterra.
James Richard Simmons, autor de Romances industriais e de “Condição da Inglaterra”, reforça a ideia de que, à medida que o apetite por conhecimento sobre a condição da Inglaterra foi aguçado, os romancistas encontraram um público interessado em aprender mais sobre a situação das classes trabalhadoras, e o romance tornou-se um veículo para ensinar às classes média e alta sobre a “real” condição da Inglaterra.
Não é difícil entender por que esse gênero encontrou espaço visto que, durante o século XIX, até 38% da população trabalhadora do país estava empregada em fábricas. Ainda segundo Simmons, o romance de condição da Inglaterra desempenhou um papel importante no desenvolvimento da literatura e, de maneira mais geral, na política e cultura vitorianas.
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Para Andressa de Oliveira Nascimento, autora de Análise do romance industrial Norte e Sul, de Elizabeth Gaskell, e as representações da industrialização e seus desdobramentos, o romance social abre possibilidade para se narrar uma história das classes mais baixas e das consequências da Revolução Industrial sobre essa classe. Mesmo que os personagens dessas histórias não tenham existido, eles eram símbolos do período em que os autores escreveram e ilustravam ideologias que representavam as regiões geográficas nas quais viviam.
Um dos principais exemplos de romances industriais do período é Norte e Sul, escrito por Elizabeth Gaskell. Na narrativa, conhecemos Margaret Hale e John Thornton. Ela, uma jovem aristocrática arrancada de seu lar pastoril; ele, um rígido proprietário de fábrica. A cidade industrial é representada pelo contraste entre a riqueza e a pobreza, a ostentação e a degradação, o sul e o norte. Unindo crítica social e romance, Elizabeth Gaskell nos envolve com sua prosa cheia de duras confissões de amor e os efeitos da Revolução Industrial no período vitoriano.
Os romances do século XIX constituem importantes referências para compreender os confrontos entre o progresso técnico e a desigualdade social da época. Norte e Sul, de Elizabeth Gaskell, é um dos mais importantes exemplos da literatura do período e segue como um favorito dos leitores do gênero. Conheça Norte e Sul!