Gótico botânico: o subgênero que inspirou grandes mestres da literatura
Elas estão na Terra há mais tempo do que nós e, ainda assim, são vistas por muitos como seres misteriosos, fascinantes e, muitas vezes, assustadores. As plantas se adaptam muito bem aos mais diversos ambientes, desde os pacíficos aos mais hostis, e algumas delas desenvolveram habilidades de defesa que podem ser letais. Quando percebemos que as plantas poderiam ser tão perigosas para os humanos quanto os animais, elas se tornaram inspiração para histórias diversas e a literatura se banhou de seus mistérios e possibilidades.
Desde a Antiguidade as plantas já suscitavam fascinação e especulação ante seu potencial sobrenatural, mágico, místico ou religioso. É possível encontrar referências de plantas na literatura desde a Odisseia, de Homero, até contos do século XIX. Mas foi justamente durante esse período que o subgênero do gótico botânico, como viria a ser conhecido, finalmente floresceu.
Com a crescente colonização de novos territórios pelas mãos dos europeus, muitas espécies de animais e, claro, vegetais, foram finalmente "descobertas" pelos intelectuais do velho mundo. Tamanha diversidade, já celebrada há tempos por povos originários, gerou uma estranheza ao colocar em xeque o que já era conhecido pelos europeus.
A cultura sempre se mostrou como um reflexo das angústias e transformações sociais de seu povo. Em meio às mudanças histórico-sociais do século XIX, às recentes descobertas científicas e ao impacto da teoria evolutiva proposta por Darwin, autores despejaram nas páginas de seus livros histórias que refletiam medos e anseios de sua época.
Segundo Bruno Anselmi Matangrano, no prefácio de Mestres do Gótico Botânico, "isso acendeu a imaginação do fim do século XIX, originando, posteriormente, designações variadas como plantas fantásticas - conceito retirado do imaginário medieval -, gótico botânico - categoria inovadora proposta pela crítica anglófona contemporânea -, ou ainda horror ou terror vegetal - como preferem os franceses, que vêm se dedicando ao tema nas últimas décadas".
O gótico botânico
Mais conhecido pelos leitores, o gótico se apresenta, em geral, mais como uma estética ou um modo narrativo, isto é, trata-se de algo mais associado à construção de imagens e atmosferas e à abordagem de determinados temas do que a uma formulação recorrente, que repete e retoma recursos narrativos. Ainda segundo Bruno Anselmi Matangrano, "o gótico não tem necessariamente uma estrutura, como o tem outros tipos de história (por exemplo, a narrativa policial ou o conto de fadas), mas apresenta ambientações e atmosferas facilmente reconhecíveis, além de temáticas e cenários recorrentes".
Com um solo fértil para que escritores pudessem explorar o potencial dessas histórias, nasceu o que hoje chamamos de "gótico botânico" ou "horror vegetal". O gótico botânico contempla em sua maioria narrativas de estética ou ambientação de viés gótico, nas quais o elemento sobrenatural de algum modo se manifesta através de plantas ou delas deriva.
Os fungos também foram incluídos nessa categoria pela coerência com o pensamento hegemônico no século XIX, que, desconhecendo grande parte das particularidades do reino fungi, relegavam cogumelos e mofos ao reino vegetal.
Desde então, grandes nomes da literatura como Algernon Blackwood, Charlotte Perkins Gilman e Nathaniel Hawthorne, escreveram histórias fantásticas e arrepiantes sobre esses seres silenciosos e inspiradores. Saiba mais sobre o gênero e descubra histórias populares e raras dos grandes autores de terror em Mestres do Gótico Botânico, um resgate dos clássicos de horror botânico do período vitoriano.