Conto de Natal | Lucie Delarue-Mardrus | 1920
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Conto de Natal | Lucie Delarue-Mardrus | 1920

Isabelle embalava seu garotinho em seus joelhos com gentileza, perto do fogo, onde havia três tocos de lenha na lareira estreita. A luz baixa iluminava sua ceia. Uma neve bastante espessa, caída pela manhã, deitava sua coberta de silêncio ao redor da pequena casa isolada em seu jardim minúsculo.

Pobre chácara da periferia, a própria imagem da mediocridade, como parece bela esta noite para aquela que terá de deixá-la para adentrar a miséria!

Isabelle, jovem filha de família rica, casada por amor há cinco anos, despencou rapidamente da alta escada de sua felicidade.

O rapaz pobre que escolheu por seu charme e belos traços, contrariando os pais, era um homem suspeito. Ela só se deu conta disso quando era tarde demais. Seu filho tinha nascido, seus pais estavam mortos. Órfã e mãe quase ao mesmo tempo, a jovem, dividida entre aquela tristeza e esta alegria, viu começar, naquele mesmo ano, a extinção de um casamento.

Uma manhã, foi a revelação de uma colossal dívida de jogo. Uma noite, a descoberta da mais baixa devassidão. Nada além de lágrimas! A fortuna de Isabelle se vai, seu coração fica mortificado. Após o belo apartamento de Paris e os parques e castelos de verão, aquele único pequeno casebre na periferia se enche na mesma hora com imensos desgostos. O homem, que começou a beber, no decorrer de cenas inconcebíveis, bate em sua esposa e seu filho. E eis agora a última que aprontou: sem qualquer outra explicação além de uma horrível carta deixada sobre a mesa, foi embora, já faz oito dias, levando consigo o resto do dinheiro.

Isabelle, para além do escândalo e do desespero, entendeu na mesma hora que, abandonada e arruinada, estava sozinha diante da miséria imediata, com uma criança para criar.

Restava-lhe ao todo duzentos francos… e sua coragem.

Sua coragem era aquela criança que embalava no colo. É tão forte uma mãe quando abraça seu filho contra o coração!

Ela foi metódica com a catástrofe. Desde o dia anterior, um anúncio se agita ao vento na chácara. A sublocação seria seu único modo de subsistência até encontrar, como se diz, um lugar. Um lugar de quê?

Ser a secretária de alguém, seria muito agradável; funcionária de loja, tão bom quanto. E se for preciso me tornar faxineira…? Que seja!

Ela se inclinou para pegar um pedaço de madeira e atirar no fogo moribundo. A criança, que tinha adormecido, despertou.

— Mamãe…!

Oh, querida palavrinha grande como o mundo!

— Mamãe, conte de novo, como agora há pouco!

Ela o beijou, chegou a sorrir. E sua voz, para evocar a bela imagem do Papai Noel, tornou-se encantadora e doce como a de uma mulher feliz. Não era melhor que, tanto quanto possível, o inocente ignorasse os revezes que eram maiores do que ele? Proporcionar-lhe uma infância mais ou menos feliz; substituir pelo encanto todos os mimos que não conheceria, este era seu sonho, o pequeno sonho sublime de uma jovem mulher completamente infeliz.

Pobre criança! Já tem medo, já apanhou. Cabe a mim inventar um refúgio de poesia sobre o qual pensará mais tarde, quando lhe vier o infortúnio de se tornar uma pessoa adulta…

E sombriamente pensou:

O que me garante que um dia não será um bruto como o pai?

— Mamãe, conte de novo?

— Está bem, lá vamos nós…! O pequeno Edmond vai tirar sua soneca. Então, o Papai Noel vai entrar no jardim, depois na sala de jantar, bem aqui. E virá até os sapatinhos que vamos colocar agora mesmo diante da lareira.

Embalada por sua própria canção, continuou por bastante tempo, inventando conforme falava as maravilhas caridosas.

— Veja só, ele é velho e gordo, o Papai Noel. Mas seus pés não deixarão marcas na neve, pois ele é leve como o ar. Tem uma longa barba branca, um gorro, um capuz de pele, e seu casaco é todo cheio de estrelas que brilham à noite.

Com olhos imensos, o pequeno bebia aquele novo leite com o qual ela o nutria.

— E agora, já para a cama! O Papai Noel não vem se as crianças estiverem acordadas!

Com os pequenos sapatos dispostos diante da lareira, ela teve um prazer dilacerante em fazê-lo se deitar em sua caminha. Da sala contígua, fizera o quarto dele, para simplificar a vidinha a dois. E, por mais que aquele cômodo fosse glacial, permaneceu perto de seu amor, sentada na sombra, até que ele tivesse adormecido.

De volta à sala de jantar, para não ficar chorando sozinha, apressou-se a ir buscar em seu esconderijo os itens que comprara, uma despesa considerável quando não se tem nada além de duzentos francos como fortuna. Mas se apegava à ideia de que aquele primeiro Natal no infortúnio fosse, mesmo assim, magnífico o bastante para enriquecer para sempre a imaginação do pequeno abandonado.

Ela terminava de ajeitar o tamanquinho de chocolate num sapato e a marionete de cores vivas no outro. Agachada, pôs-se a divagar. Pobre fofinho! E pensar que ele acha que o gentil Papai Noel vai entrar aqui e…

Um rangido de chave na fechadura da porta de entrada a fez ficar de pé, sobressaltada.

Não teve tempo de fazer gesto algum. A porta da sala se abriu. Petrificada, viu à sua frente, silencioso, pálido e abatido pelo frio, seu marido.

Nem por um segundo achou que ele vinha lhe pedir perdão. Tinha uma cara de criminoso que a apavorou.

— O que quer? — gaguejou.

Ele não hesitou. De maneira brusca, disse, num tom seco:

— Quero os duzentos francos que deixei aqui. Passe para cá!

A indignação lhe arrancou este simples grito:

— Oh…! Isso já é demais!

Ele sentiu a revolta dela. Dando um passo em sua direção, viu as lembrancinhas nos dois sapatinhos.

— Então é isso o que faz com meu dinheiro, sua imbecil?

Lágrimas de raiva jorraram dos olhos de Isabelle. Ela começou a falar, com veemência:

— Seu miserável… você…

Vinda do outro cômodo, uma vozinha apavorada a chamou:

— Mamãe!

Ela estremeceu dos pés à cabeça e, olhando para o marido, levou bem depressa um dedo sobre a boca, sussurrando:

— Eu vou dar tudo, mas nem mais uma palavra! Nem mais uma palavra! Espere só um segundo!

Correu até a sala e, entreabrindo a porta, disse baixinho:

— Shhhh…! Volte a dormir depressa, meu amor! É o Papai Noel que está aqui!

Depois, voltando em total silêncio, foi até a mesa, remexeu nuns papéis, sacou as pobres notas e estendeu-as ao homem espantado. E, seguindo-o para fechar suavemente a porta atrás dele, não acrescentou nem mais uma palavra.

Não pregara o olho durante a noite. Na luz tremeluzente da lamparina, não deixou de observar o filho dormir, aquele pequeno que mais uma vez ela acabara de salvar da realidade. Às sete horas, ele despertou. Ela abriu as persianas.

— Oh, rápido, mamãe, vamos ver se há pegadas na neve! Essa noite, pensei… pensei ter escutado o papai! Se houver pegadas, é porque foi ele que veio no lugar do Papai Noel.

Ela estremeceu. Mas a natureza, ao menos, fora boa consigo. Outra nevasca caíra depois da sinistra visita. O jardim estava imaculado.

— Oh, que alegria, mamãe! Então deve ter algo nos meus sapatos!

Ela o embrulhou em um xale, empurrou a porta.

— Vá ver você mesmo!

E, quando ele voltou, trazendo seus sapatinhos mágicos, foi com o coração acelerado de alegria que têm todas as crianças no dia 25 de dezembro. Quando terminou de dar suas gargalhadas, antes de voltar para a cama, foi até a janela a fim de enviar beijinhos na direção do jardim.

— Obrigado, Papai Noel! Obrigado!

Então Isabelle, para conter um soluço, virou-se de costas. Mas bem depressa a vozinha a chamou de volta:

— Oh, mamãe…! Venha ver! O Papai Noel deixou cair as estrelas de seu casaco no jardim!

Surpresa, ela olhou pela janela. Sem dúvida, um pássaro acabara de passar ali, saltitando com suas patas bifurcadas cujas pegadas desenharam pequenos astros na neve, e o jardim, de fato, estava todo estrelado. Quando viu tudo aquilo, a pobre Isabelle, enfim, começou a chorar. Mas eram lágrimas de alegria. Pois a vida, apesar de tudo, não era tão má, já que, supremo presente de Natal, a mãe descobria naquele minuto que a criança que pusera no mundo, seu companheiro de miséria, sua razão de ser, era, milagrosamente, um pequeno poeta.

 

Tradução de Bruno Matangrano

 

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