Ana Milani: a artista por trás de Mulheres do Suspense

Figuras femininas com cabelos longos, nariz aquilino e olhos sem íris, sempre flertando com o onírico, o estranho, o místico e o mítico. As ilustrações de Ana Milani nos transportam para um universo particular fascinante e ajudam a trazer para a realidade algumas das nossas histórias favoritas. Saiba mais sobre quem é a artista por trás de Mulheres do Suspense!

Você poderia falar um pouco mais sobre você? Como começou sua carreira como artista?

Me chamo Ana Milani, venho de Minas Gerais e moro na região metropolitana de São Paulo. Sou graduada em arquitetura e sempre tive interesse por arte e desenho, foi depois da faculdade que troquei o desenho técnico pelo desenho artístico, pela fotografia e pelas artes manuais pois descobri nessas áreas a minha vocação. Certamente a faculdade ajudou a entender a proporção e espacialidade do desenho, da fotografia e até a desenvolver minhas artes manuais.

Essa paixão pela arte expande para além do profissional e aprecio visitar espaços culturais, exposições de arte, assistir a filmes e falar sobre cinema, ler e escrever. Também gosto de estar em meio à natureza e na companhia das minhas gatas.

Você tem algum trabalho autoral que sente que marcou sua carreira como artista?

Acredito que "Metamorphosis" marcou bastante, primeiro pelo significado da metamorfose de uma mariposa, a transformação de um ser, transpassando velhas estruturas para formular novas possibilidades de movimento. Segundo porque foi quando mais pessoas acabaram conhecendo e se identificando com o meu trabalho, essa arte virou até tatuagem e hoje está na pele de algumas pessoas.

Você tem alguma referência literária? Histórias que te inspiram, personagens marcantes?

Gosto muito de realismo mágico e literatura gótica, das narrativas poéticas e atmosféricas d'A Divina Comédia (Dante Alighieri) e Paraíso Perdido (John Milton) e da escrita de fluxo de consciência de Clarice Lispector, Virginia Woolf e Fiódor Dostoiévski.

Existe algum tipo de trabalho que mais te inspira e que você gosta mais de fazer?

O que mais gosto de representar são figuras femininas com cabelos longos, nariz aquilino e olhos sem íris, flertando sempre com o onírico, o estranho, o místico e o mítico. Acho interessante comentar que grande parte do meu trabalho é em preto e branco, seja ele digital ou tradicional.

Um trabalho artístico que é o meu xodó é a série de colagens "Feminino Monstruoso", onde desestruturei as ilustrações das "Gibson Girls", desenvolvidas por Charles Dana Gibson como sendo o padrão de beleza ideal do começo do século XX, transformando as moças em Arachne (a criatura aracnídea), Carmilla (a vampira lésbica), Medusa (a criatura com serpentes no lugar do cabelo) e Strega (uma bruxa chifruda).

Qual material você usa para fazer as ilustrações? Você tem alguma técnica específica?

Para as ilustrações tradicionais, uso grafite e nanquim no papel, e nas ilustrações digitais, uso pincéis que lembram esses materiais tradicionais. Ultimamente tenho adorado desenhar com grafite, gosto de criar texturas e intensidades diferentes no papel, é muito relaxante e até perco a noção do tempo.

Você tem algum sonho ou objetivo profissional em relação a onde gostaria de chegar com o seu trabalho?

Ah, tenho muitos... Alguns deles é estudar mais o desenho e mídias diferentes como gravura e pintura, quero também ilustrar meus próprios contos.

Como foi o processo de ilustrar os contos do trio Mulheres do Suspense?

Para o trio, eu começava lendo os contos, anotando em uma folha sulfite detalhes do briefing que me foi enviado e detalhes que achava interessante ao longo da leitura, é um processo que funciona ao mesmo tempo, sabe? Ao longo da leitura, já vou tendo algumas ideias e rabiscando elas no papel, buscando referências de penteados, vestimentas e estética da época em que se passa o conto ou da época em que ele foi escrito. Depois de desenvolver um rascunho, tiro foto, passo para o computador e começo o processo de ilustração digital. É interessante ver a ilustração sendo construída e transformada, ela fica bem diferente do rascunho, que é sempre caótico.

Acredito que consumir arte ajuda muito a ter referências criativas, por exemplo, enquanto lia "O Encontro Amoroso da Dama Branca", conto que faz parte do livro "O Lado Mais Sombrio", a descrição da dama lembrou muito algumas cenas do filme "The Dybbuk", de 1937.

Ana Milani é a artista responsável por ilustrar todos os livros do trio "Mulheres do Suspense". As páginas que guardam as histórias de três grandes nomes da literatura ganharam vida nas mãos de Ana Milani. Conheça “Mulheres do Suspense”!