The Five: As vítimas de Jack, o Estripador
The Five: As vítimas de Jack, o Estripador
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The Five: As vítimas de Jack, o Estripador

The Five: As vítimas de Jack, o Estripador

    Hallie Rubenhold
R$ 120,00

Em uma obra vencedora de prêmios e best-seller internacional, Hallie Rubenhold conta sobre a difícil vida das vítimas de Jack e desestigmatiza lendas sobre a época
Capa dura | 416 páginas | Inédito | Vencedor de prêmios | Marcador
The Five: As vítimas de Jack, o Estripador

The Five: As vítimas de Jack, o Estripador

R$ 120,00
Sinopse e descrição

A história não contada das vítimas de Jack, o Estripador. Obra vencedora de prêmios e best-seller internacional. 

Um retrato sombrio e emocionante da Londres vitoriana - a história não contada das mulheres assassinadas por Jack, o Estripador.

Polly, Annie, Elizabeth, Catherine e Mary-Jane são famosas pela mesmo motivo, embora nunca tenham se conhecido. Elas vieram de Fleet Street, Knightsbridge, Wolverhampton, Suécia e País de Gales. Escreviam baladas, administravam cafés, moravam em propriedades rurais e escapavam dos traficantes de pessoas. O que elas tinham em comum era o ano de seus assassinatos: 1888. O responsável por estes crimes nunca foi identificado, mas o personagem criado pela imprensa para preencher essa lacuna se tornou muito mais famoso do que qualquer uma de suas vítimas.

Durante 130 anos, a mídia se preocupou em alimentar o mito de Jack, o Estripador, através de livros, filmes, séries e excursões. Todos os dias, turistas do mundo todo fazem peregrinações para visitar os lugares onde essas mulheres foram assassinadas, sabendo sempre tão pouco sobre suas vidas. Mas e se descobríssemos que nenhuma delas nasceu em Whitechapel, mas acabou lá depois de viver uma vida plena em outro lugar? E se soubéssemos que essas mulheres eram esposas, mães ou ambas?

O que pensaríamos de nós mesmos e de nossa sociedade por nunca ter questionado essas coisas?

Numa narrativa devastadora, a historiadora Hallie Rubenhold muda completamente a nossa visão dos assassinatos do Estripador. Ela nos desafia a voltar para a Londres de 1888, quando a polícia e a imprensa local assumiram e resumiram a história dessas vítimas a um cenário de prostituição, como se, de alguma forma, esse rótulo tivesse tornado suas vidas menos dignas de reconhecimento ou comemoração. É hora de conhecermos os surpreendentes triunfos e as dificuldades de partir o coração que essas mulheres encontraram ao longo de suas vidas, revelando que a mesma Inglaterra de Dickens e da rainha Vitória também era um mundo de pobreza e misoginia desenfreada.

Ficha técnica 

Dados Informações
Nome do Autor
Hallie Rubenhold
Tradutor
Carolina Caires Coelho
ISBN 978-65-88218-32-7
Páginas 416
Formato 15,5x23 cm
Capa Capa dura com verniz localizado
Miolo Papel pólen bold 70g
Edição  1ª 
Conteúdo Indicado para adultos
Frete

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Luciana Vieira Silva (RJ)
Incrível!

Estou sem palavras pra descrever essa perfeição !

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Ive Viana (MG)

Livro superou minhas expectativas!

H
Haroldo Pereira da Silva Porto Júnior (RJ)
Ansioso para ler logo...

Até que enfim encontrei um livro sobre a mulheres que tanto sofreram...

L
Letycia Galhardi (PR)

The Five

V
Victória Correia do Monte (AL)

The Five

Leia um trecho

Há duas versões dos eventos de 1887. Uma é muito conhecida; a outra, não.
A primeira versão é a que está impressa na maioria dos livros de história. É aquela da qual aqueles que viveram ao longo do tempo desejavam se lembrar, a versão que relataram aos netos com um sorriso melancólico. É a história da rainha Vitória e de um verão de comemorações pelo seu Jubileu de Ouro. Ela ainda era adolescente quando a pesada coroa da nação foi colocada sobre sua cabeça. Meio século depois, ela havia se tornado a personificação do império, e uma série de eventos havia sido planejada para comemorar isso. Em 20 de junho, o dia exato em que subiu ao trono, a realeza da Europa, príncipes indianos, dignitários e representantes de todos os cantos do império — até mesmo a rainha havaiana Liliuokalani — foram para Londres. Os comerciantes de West End adornaram suas janelas com vermelho, branco e azul; estandartes reais e bandeiras do Reino Unido, festões de flores e guirlandas coloridas podiam ser vistos pendurados em todas as construções comuns. À noite, as embaixadas e clubes, hotéis e instituições de toda St. James e Piccadilly acionavam os interruptores de luzes elétricas e ligavam os jatos de gás que iluminavam as coroas gigantes e as letras V e R afixadas em seus prédios. Os súditos leais de Sua Majestade chegaram ao centro da cidade vindos dos subúrbios e cortiços; pegaram seus bilhetes de trem de Kent e Surrey e abriram caminho pelas ruas movimentadas, esperando vislumbrar uma carruagem real ou uma princesa cheia de diamantes. Colocaram velas nas janelas de suas casas quando o longo crepúsculo do verão desapareceu e brindaram à saúde de sua monarca com cerveja, champanhe e clarete.
Houve uma missa de ação de graças na Abadia de Westminster, um banquete, uma parada militar em Windsor e até uma festa infantil em Hyde Park para 2.500 meninos e meninas que foram entretidos por 20 bonecos Punch e Judy, 8 teatros de marionetes, 86 caixas de perspectiva, 9 grupos de cães, macacos e pôneis, além de bandas, brinquedos e “balões inflados a gás”, antes de ganharem um almoço de limonada, bolo, tortas de carne, pães e laranjas. Durante o verão, houve concertos, palestras, performances, regatas, piqueniques, jantares e até uma corrida de iate comemorativos do Jubileu. Como o Jubileu correspondia à tradicional “estação” de Londres, também havia festas e bailes no jardim. As senhoras se vestiam à moda do verão: vestidos enfeitados com rendas em seda preta e branca e tons de amarelo-damasco, heliotrópio e azul Gobelin. Um magnífico baile foi realizado no Guildhall, onde o príncipe e a princesa de Gales recebiam seus visitantes reais, assim como o príncipe da Pérsia, o enviado papal, o príncipe do Sião e o marajá Holkar de Indore. Toda a alta sociedade dançava sob as faixas e arranjos em cascata de flores perfumadas. Tiaras e alfinetes de gravata brilhavam nos espelhos. Jovens debutantes foram apresentadas a filhos adequados. O turbilhão da vida vitoriana girava sem parar na melodia de sonho de uma valsa arrebatadora.
E há a outra versão.
É a história de 1887 que a maioria escolhe esquecer. Até hoje, apenas um número escasso de livros de história a conta, poucas pessoas sabem que ela ocorreu; no entanto, naquele ano, essa história preencheu mais espaço das colunas de jornais do que as descrições de desfiles reais, banquetes e festas juntas.
Aquele verão do Jubileu foi excepcionalmente quente e sem chuva. O céu azul-claro que marcava os piqueniques tranquilos da estação e as festas ao ar livre havia diminuído a colheita de frutas e secado os campos. A escassez de água e a ausência de mão de obra agrícola sazonal serviram apenas para agravar uma crise de emprego já crescente. Enquanto os ricos desfrutavam do bom tempo debaixo de seus guarda-sóis e das árvores de suas casas de campo, os sem-teto e os pobres faziam uso dele criando um acampamento ao ar livre na Trafalgar Square. Muitos haviam chegado ao centro da cidade em busca de trabalho no Covent Garden Market, onde os londrinos compravam seus alimentos, mas uma seca deixou menos caixas de ameixas e peras para serem levantadas e transportadas. Sem dinheiro para alojamentos, eles dormiam sem conforto na praça próxima, e a eles se unia um número crescente de trabalhadores desempregados e sem-teto que preferiam voltar para a rua a enfrentar as condições deploráveis e degradantes nas casas de trabalho. Para o horror de quem observava, aqueles acampados podiam ser vistos fazendo suas abluções matinais e esfregando suas roupas “infestadas de vermes” nas fontes, bem embaixo do nariz de Lord Nelson, que espiava do alto de sua coluna. Quando o outono começou a se aproximar, o mesmo aconteceu com os socialistas, o Exército da Salvação e várias organizações de caridade, entregando Bíblias, ingressos para abrigos, café, chá, pão e sopa. Lonas enceradas foram erguidas em acampamentos improvisados; discursos diários apaixonados eram feitos entre as patas dos gigantes leões de bronze. A empolgação, o senso de comunidade e as bebidas gratuitas aumentaram o número de londrinos párias, o que atraiu a polícia, que por sua vez trouxe os jornalistas, que vagavam entre a população desordenada da praça reunindo os nomes e as histórias daqueles invasores anônimos.
O “sr. Ashville” dizia ser “pintor e vidraceiro profissional”. Ele estava desempregado havia doze meses, dos quais trinta e três noites havia passado dormindo no aterro até esfriar muito e ele se mudar para a Trafalgar Square na esperança de que pudesse ficar um pouco mais quente. Desanimado e visivelmente desgastado por sua experiência, ele tentou se manter otimista em relação a suas perspectivas de um dia encontrar emprego.
A viúva de um soldado circulava pela Trafalgar Square vendendo fósforos para ajudar seu jovem filho, mas ela nem sempre viveu assim. Depois de deixar de pagar a parcela final da máquina de costura comprada a prazo, ela perdeu o sustento e depois o único cômodo que chamava de lar. Como ela sabia que voltar à casa de trabalho significaria que seu filho seria separado dela, deitar-se na praça todas as noites com ele enrolado em seu xale parecia uma opção melhor.
Um “casal de idosos” que nunca antes enfrentara adversidades se viu dormindo em um dos bancos de pedra da praça. O marido da dupla havia sido contratado como diretor musical em um teatro, mas sofreu um acidente que o tornou inapto para o trabalho. Sem economias, eles logo ficaram com o aluguel atrasado e acabaram forçados a dormir ao relento. A ideia de se lançar à mercê da casa de trabalho local era vergonhosa e assustadora demais para ser considerada.
Centenas iam à Trafalgar Square para repousar a cabeça nas pedras do pavimento, cada um com uma história parecida para contar. Não demorou muito tempo para os agitadores políticos reconhecerem que aquela congregação de oprimidos era um exército pronto de bravos sem nada a perder. Os londrinos, havia muito, tinham percebido que a Trafalgar Square ficava em um eixo entre o leste e o oeste da cidade, a linha divisória entre ricos e pobres: uma fronteira artificial que, como as restrições invisíveis que mantinham sem voz as pessoas sem direito, podia ser facilmente transposta. Em 1887, a possibilidade de revolução social parecia assustadoramente próxima para alguns e ainda não próxima o suficiente para outros. Na Trafalgar Square, os discursos diários proferidos por socialistas e reformadores, como William Morris, Annie Besant, Eleanor Marx e George Bernard Shaw, levaram à mobilização conforme gritos e procissões de milhares de pessoas carregando cartazes se espalharam pelas ruas e inevitavelmente causaram violência. A Polícia Metropolitana e o Tribunal de Magistrados de Bow Street fizeram hora extra na tentativa de conter os manifestantes e tirar da praça aqueles que eles consideravam indigentes e provocadores, mas, como uma maré impossível de conter, assim que foram expulsos, eles voltaram mais uma vez.
O erro fatal ocorreu quando, em 8 de novembro, Sir Charles Warren, chefe de polícia, proibiu todas as reuniões na Trafalgar Square. Aqueles que viam aquele local no coração de Londres como um local de protestos do homem comum e fórum de ação política viram isso como um ato deliberado de guerra. Uma manifestação foi planejada para o dia 13 do mês. Seu pretexto era exigir a libertação do deputado irlandês William O’Brien da prisão, mas as queixas expressadas pelos protestantes iam muito além dessa causa célebre. Mais de quarenta mil homens e mulheres se reuniram para expressar sua opinião. Eles foram recebidos por dois mil policiais, bem como pela Guarda da Rainha e pelo Regimento de Guardas Granadeiros. Os confrontos começaram quase imediatamente e a polícia foi para cima dos manifestantes com seus cassetetes. Apesar dos apelos por um protesto pacífico, muitos dos participantes foram portando canos de chumbo, facas, martelos e porretes; quarenta dos manifestantes foram presos, mais de duzentos foram feridos no tumulto e pelo menos dois foram mortos. Infelizmente, o Domingo Sangrento, como ficou conhecido, não sinalizou o fim dos conflitos. O tilintar de vidros quebrados e explosões de fúria em público continuaram até o início do ano seguinte.
Dessas duas cenas, participaram duas mulheres cujas vidas e mortes viriam a definir o século XIX; uma foi Vitória, que deu seu nome à época: 1837-1901. A outra foi uma mulher sem-teto chamada Mary Ann ou “Polly” Nichols, que estava entre as pessoas acampadas na Trafalgar Square naquele ano. Ao contrário da monarca, sua identidade seria amplamente esquecida, mas o mundo se lembraria com grande fascínio e até satisfação do nome de seu assassino: Jack, o Estripador.
Aproximadamente doze meses separam o verão do Jubileu de Ouro da rainha do assassinato de Polly Nichols, em 31 de agosto de 1888. Ela se tornaria a primeira das cinco vítimas “canônicas” de Jack, o Estripador, ou aquelas cujas mortes a polícia determinou terem sido cometidas pela mesma pessoa no distrito de Whitechapel, em East End. Seu assassinato foi seguido pela descoberta do corpo de Annie Chapman em um quintal na Hanbury Street, em 8 de setembro. Nas primeiras horas da manhã do dia 30 daquele mês, o Estripador conseguiu atacar duas vezes. No que ficou conhecido como “o evento duplo”, ele tirou a vida de Elizabeth Stride, encontrada em Dutfield’s Yard, perto da Berner Street, e de Catherine Eddowes, morta na Mitre Square. Após uma breve pausa em sua matança, ele cometeu a atrocidade final, em 9 de novembro: uma completa mutilação do corpo de Mary Jane Kelly enquanto ela estava deitada em sua cama na casa de número 13 da Miller’s Court.
A brutalidade dos assassinatos de Whitechapel surpreendeu Londres e a maior parte do mundo que lia os jornais. Todas as vítimas do Estripador tiveram suas gargantas cortadas. Quatro das cinco foram evisceradas. Com exceção do assassinato final, todas essas mortes violentas ocorreram ao ar livre, encobertas pela escuridão. Em cada caso, o assassino conseguiu fugir, não deixando nenhum vestígio de sua identidade. Dado o distrito muito populoso em que esses assassinatos ocorreram, o público, a imprensa e até a polícia acreditavam que isso era notável. O Estripador sempre parecia estar um passo, fantasmagórico e assustador, à frente das autoridades, o que dava aos assassinatos uma característica mais aterrorizante e quase sobrenatural.
A Divisão H da Polícia Metropolitana, com sede em Whitechapel, fez o melhor que pôde com seus recursos, mas por nunca antes ter enfrentado um caso de assassinato dessa escala e magnitude, rapidamente se viu sobrecarregada. Pessoas foram interrogadas, de casa em casa, em toda a área, e uma grande variedade de material forense foi coletada e analisada. A polícia foi cercada com declarações e cartas daqueles que alegavam ser testemunhas, pessoas que ofereciam assistência e outras que apenas gostavam de contar histórias. Ao todo, mais de duas mil pessoas foram entrevistadas e mais de trezentas foram investigadas como possíveis suspeitas. Mesmo com assistência adicional da Scotland Yard e da polícia da cidade de Londres, nada disso trouxe resultado. Certamente, pistas reais se perderam entre os muitos papéis que eles tiveram que processar. Nesse ínterim, enquanto policiais escreviam em seus cadernos e seguiam possíveis malfeitores por becos escuros, o Estripador continuava a matar.
Enquanto o “Outono do Terror” se prolongava, Whitechapel foi se enchendo de jornalistas, todos eles em cima desse tesouro sensacionalista com penas a postos. A inevitável inserção da imprensa entre a investigação policial em andamento e uma população de East End que vivia em elevado estado de alerta se mostrou explosiva. Na ausência de qualquer informação conclusiva oferecida pela polícia, os jornais estavam ansiosos para publicar suas próprias teorias sobre o assassino e seu modus operandi. Os jornais sumiam das bancas de jornais e a busca por mais conteúdo e melhores ângulos se tornou insaciável. Invariavelmente, exagero, invenção e “notícias falsas” chegaram às páginas. No entanto, boatos publicados e opiniões inflamadas que menosprezavam os esforços da polícia não ajudaram a acalmar a ansiedade dos moradores de Whitechapel. Em meados de setembro, os moradores eram descritos como “em pânico”; a maioria estava aterrorizada demais para sair de casa à noite. Multidões “vaiando e gritando” se reuniam do lado de fora da delegacia de polícia na rua Leman, exigindo a prisão do assassino, e uma Sociedade de Vigilância de Whitechapel foi fundada por comerciantes locais ansiosos para resolverem o assunto com suas próprias mãos. Durante todo o tempo, a imprensa especulou bastante sobre a identidade do culpado: ele era um homem de Whitechapel; ele era um “bacana” rico de West End; era marinheiro, judeu, açougueiro, cirurgião, estrangeiro, lunático, um bando de ladrões. Os habitantes do bairro começaram a atacar qualquer um que se encaixasse nessas descrições: médicos com maletas foram agredidos; homens carregando pacotes foram denunciados à polícia. Embora enojados com os eventos, muitos também ficaram intrigados com eles de um modo bizarro. Assim como as multidões se aglomeravam na frente da Delegacia de Polícia de Leman Street, também se reuniam em torno dos locais dos assassinatos. Alguns ficavam olhando para os lugares onde as ações cruéis haviam sido cometidas na esperança de encontrar respostas, enquanto outros estavam simplesmente fascinados pelo horror do espetáculo.
Como a polícia não conseguia prender nem acusar um suspeito por qualquer um dos cinco assassinatos, a vontade de ver a justiça ser feita na forma de um julgamento nunca foi saciada. Mas a única coisa que ofereceu algumas respostas e um certo nível de conclusão foi a série de investigações sobre os assassinatos. Estas eram realizadas publicamente em Whitechapel e na cidade de Londres após cada assassinato e cobertas extensivamente pelos jornais. No inquérito de investigador, assim como em um julgamento, testemunhas foram chamadas diante de um júri para relatar os eventos com o objetivo de formar uma imagem clara e oficial de como a morte ocorrera. A maioria das informações que existem sobre as cinco vítimas foi extraída de declarações de testemunhas fornecidas durante os inquéritos; no entanto, elas apresentam um relato problemático dos acontecimentos. O método de análise não era completo, havia poucas perguntas de acompanhamento do júri e inconsistências, além das divergências nos depoimentos nunca serem contestadas. Por fim, as informações divulgadas no decorrer dos inquéritos apenas examinam a superfície de um poço muito mais profundo e obscuro de possíveis respostas.
Se os assassinatos de Whitechapel serviram para expor alguma coisa, foram as condições indescritivelmente horrendas em que os pobres daquele distrito viviam. O acampamento e os tumultos na Trafalgar Square eram apenas uma manifestação visível do que estava cronicamente ruim em East End e em partes pobres de Londres. Foi um golpe duro no que já era comum. O surgimento de Jack, o Estripador, foi um golpe ainda pior e violento.
Durante a maior parte do reinado de Vitória, os reformadores sociais e os missionários condenaram os horrores do que observaram em East End, mas a situação começou a ficar mais séria nas décadas de 1870 e 1880, à medida que os efeitos da “Longa Depressão” afetaram a economia. O pouco trabalho que havia para o vasto exército de trabalhadores não qualificados de Londres, aqueles que costuravam e lavavam tecidos, carregavam tijolos, armazenavam as mercadorias, vendiam nas ruas e descarregavam os navios, era mal pago e inseguro. O trabalho casual nas docas podia pagar não mais que 15 xelins por semana; homens que carregavam placas de anúncios pelas ruas podem ganhar 1 xelim e 8 pence por dia. Para piorar a situação, os aluguéis vinham subindo constantemente. A destruição de grandes áreas de moradias de baixa renda por toda a capital para dar lugar a empreendimentos ferroviários e a novas vias amplas, como a Shaftesbury Avenue, teve o efeito de expulsar os pobres de Londres em menos espaços mais populosos.
Whitechapel foi um dos mais notórios deles, mas não foi de forma alguma a única concentração da pobreza na capital. Como revelou o extenso estudo do reformador social Charles Booth sobre as áreas pobres de Londres na década de 1890, bolsões de pobreza, crime e miséria floresceram por toda a metrópole, mesmo em áreas antes confortáveis. No entanto, a reputação de Whitechapel superou até a de Bermondsey, Lambeth, Southwark e St. Pancras como a mais sórdida. No final do século XIX, 78 mil almas estavam espremidas neste bairro de armazéns, pensões, fábricas, oficinas, matadouros, “quartos mobiliados”, bares, salas de música e mercados. Sua população apinhada era espiritual e culturalmente diversa, além de multilíngue. Por pelo menos dois séculos, Whitechapel tinha sido o foco para imigrantes de toda a Europa. No final do século XIX, um grande número era formado por irlandeses, desesperados para escapar da pobreza rural da pátria. Na década de 1880, eles se juntaram a judeus em êxodo, fugindo da violência da Europa Oriental. Em uma época altamente desconfiada de pessoas de outras nacionalidades, raças e religiões, a integração, mesmo nas favelas, não ocorreu naturalmente. Não obstante, independentemente de seus antecedentes, os investigadores sociais de Booth consideravam esses residentes bastante uniformes em termos de classe social. Com várias exceções da classe média, uma porcentagem significativa dos habitantes de Whitechapel foi identificada como “pobre”, “muito pobre” ou “semicriminosa”.
O coração escuro e pulsante no centro do distrito era Spitalfields. Ali, perto da feira e do pináculo branco da Igreja de Cristo, estavam algumas das piores ruas e acomodações da região, se não em toda a cidade de Londres. Dorset Street, Thrawl Street, Flower and Dean Street, e as ruas menores contíguas a elas, eram temidas até pela polícia. Tomadas principalmente por casas de aluguel (ou “doss houses”) baratas e decrépitas, cujos interiores úmidos e em ruínas tinham sido divididos em “quartos mobiliados” individuais para locação, aquelas ruas e seus habitantes desesperados se tornaram a personificação de tudo o que havia de podre na Inglaterra.
Os que caíram naquele abismo provindos da segurança do mundo vitoriano de classe média ficavam impressionados com o que encontravam. As calçadas quebradas, as luzes a gás fracas, as manchas de esgoto, as piscinas estagnadas de água que transmitiam doenças e as ruas cheias de lixo prediziam os horrores físicos do que havia dentro dos edifícios. Os quartos infestados de insetos, de seis metros quadrados com janelas quebradas, eram habitados por famílias inteiras. Os inspetores de saúde encontraram cinco crianças dividindo a cama ao lado de um irmão morto aguardando o enterro. As pessoas dormiam no chão, em cima de montes de trapos e palha; alguns penhoraram todas as suas roupas e possuíam apenas um trapo para cobrir sua nudez. Alcoolismo, desnutrição e doenças estavam presentes naquele antro, assim como a violência doméstica; na verdade, a maioria das formas de violência. As meninas que mal tinham chegado à puberdade se voltavam para a prostituição para ganhar dinheiro. Os meninos, com a mesma facilidade, passavam a roubar e furtar. Parecia à Inglaterra moral e de classe média que, diante desse nível de brutal e paralisante de pobreza, todos os instintos bons e justos que normalmente governariam as relações humanas haviam sido completamente corroídos.
Em nenhum lugar isso ficou mais aparente do que nas pensões comunitárias, que ofereciam abrigo àqueles pobres demais para pagar um “quarto mobiliado”. As pensões ofereciam abrigo temporário para os sem-teto, que dividiam suas noites entre as camas fedorentas oferecidas ali, a opressão das alas casuais da casa de trabalho, e dormir na rua. Eles eram as assombrações formadas por mendigos, criminosos, prostitutas, alcoólatras crônicos, desempregados, doentes e idosos, trabalhadores casuais e soldados aposentados. A maioria dos residentes podia ser descrita como vários desses. Somente em Whitechapel, havia 233 pensões comuns, que acomodavam cerca de 8.530 pessoas sem teto. Naturalmente, os de Dorset Street, Thrawl Street e Flower and Dean Street tinham as piores reputações. Quatro pence por noite podiam pagar para alguém uma cama de solteiro dura e cheia de pulgas em um dormitório sufocante e fedorento. Oito centavos podiam pagar uma cama de casal igualmente esquálida com uma divisória de madeira ao redor. Havia alojamentos para pessoas do mesmo sexo e alojamentos mistos, embora aqueles que admitiam pessoas de ambos os sexos fossem reconhecidos como os mais degenerados moralmente. Todos os hóspedes tinham direito a fazer uso da cozinha comunitária, que ficava aberta o dia todo e até altas horas da noite. Os moradores usavam ali como um local de reunião, cozinhando refeições escassas e bebendo chá e cerveja uns com os outros e com qualquer outra pessoa que quisesse visitar. Investigadores sociais e reformadores que se sentavam a essas mesas da cozinha ficavam horrorizados com os modos grotescos e a linguagem horrível que ouviam, inclusive das crianças. No entanto, foi ao comportamento violento, aos vasos sanitários imundos e entupidos, além da exposição à nudez, às relações sexuais gratuitas, à embriaguez e à negligência infantil que eles realmente se opuseram. Na “doss house”, tudo o que era ofensivo nas áreas pobres se concentrava sob o mesmo teto.
A polícia e os reformadores estavam especialmente preocupados com o vínculo que existia entre abrigos comuns e prostituição. Como poucas perguntas eram feitas a um morador de uma “doss house”, desde que ele ou ela pudesse pagar os quatro ou oito pence necessários por uma cama, esses lugares passaram a ser antros de imoralidade. Muitas mulheres que consideravam a prostituição como sua principal fonte de renda viviam ou trabalhavam em pensões, especialmente após a emenda à Lei Criminal de 1885 entrar em vigor, o que forçou o fechamento de muitos bordéis. O resultado disso foi que muitas prostitutas se viram obrigadas a exercer seu trabalho em locais separados de onde moravam. Um alojamento com camas de oito pence era um local conveniente para levar homens que as abordavam na rua. Outras prostitutas optavam por dormir em uma cama de solteiro mais barata, de quatro pence, mas recebiam seus clientes nos cantos escuros do lado de fora, onde ocorriam encontros sexuais rápidos, que frequentemente não envolviam relações sexuais completas.
As pensões ofereciam abrigo para uma grande variedade de mulheres que enfrentavam diversas circunstâncias infelizes. Enquanto algumas recorriam ao que era chamado de “prostituição casual”, presumir que todas faziam isso é totalmente errado. As moradoras eram criativas quando se tratava de juntar o dinheiro para pagar a “doss house”. A maioria assumia serviços de mão de obra informal mal pagos, limpando, lavando e vendendo, e complementavam isso emprestando, pedindo, penhorando e, às vezes, roubando aquilo de que precisavam. A união com um homem também era uma parte essencial para dividir custos. Muitas vezes, esses relacionamentos duravam pouco tempo e se formavam por necessidade, embora outros durassem meses ou anos sem nunca serem sacramentados em uma igreja. Os observadores de classe média sempre ficavam horrorizados com a facilidade e rapidez com que homens e mulheres pobres podiam embarcar e dissolver essas parcerias. Também não parecia importar muito se essas relações trariam filhos ou não. Naturalmente, esse código de moralidade divergia consideravelmente do padrão aceito e lançava outra camada de confusão sobre o que exatamente as mulheres residentes daqueles alojamentos estavam fazendo para ter um teto.
Durante o reinado de terror do Estripador, os jornais, ansiosos por escandalizar a nação com detalhes gráficos da vida nas áreas pobres, afirmavam regularmente que as casas de Whitechapel “eram bordéis, só não eram chamadas assim”, e que a maioria das mulheres que as habitavam eram, com pouquíssimas exceções, todas prostitutas. À luz dos terríveis acontecimentos, as pessoas tendiam a acreditar. A hipérbole tornou-se consagrada como verdade, apesar de a própria polícia perceber os fatos de maneira bastante diferente. Uma carta do comissário da Polícia Metropolitana, escrita no auge da onda de assassinatos, contava uma história completamente diferente. Depois de fazer alguns cálculos, Sir Charles Warren estimou que aproximadamente 1.200 prostitutas habitavam as 233 casas de Whitechapel. No entanto, e mais importante, ele qualificou essa afirmação ao admitir: “Não temos como determinar quais mulheres são prostitutas e quais não são”. Em outras palavras, os jornais não estavam em posição de determinar quem era quem quando até a polícia julgava ser uma impossibilidade distinguir uma prostituta das outras mulheres.
Os números de Warren apresentam outra perspectiva intrigante. Se a população das pensões fosse composta por 8.530 pessoas e um terço, ou 2.844, desses residentes fossem mulheres, e sendo aceito que 1.200 dessas mulheres pudessem ser identificadas como prostitutas, isso ainda indicaria que a maioria delas, ou 1.644, não estavam envolvidas em nenhuma forma de prostituição. Assim como os habitantes dos alojamentos de Whitechapel, as vítimas de Jack, o Estripador, e suas vidas se misturaram em uma rede de suposições, boatos e especulações infundadas. A criação dessas histórias começou há mais de 130 anos e, de maneira notável, ficou praticamente imperturbável e sem contestação por todo esse tempo. Aquilo que continuou a envolver e definir a forma das histórias de Polly, Annie, Elizabeth, Kate e Mary Jane é: os valores do mundo vitoriano. Eles são do sexo masculino, autoritários e de classe média. Foram formados em um momento em que as mulheres não tinham voz e poucos direitos, e os pobres eram considerados preguiçosos e degenerados: ter sido essas duas coisas era uma das piores combinações possíveis. Por mais de 130 anos, aceitamos o pacote empoeirado que recebemos. Raramente nos aventuramos a espiar dentro dele ou tentamos remover o invólucro grosso que nos impede de conhecer essas mulheres ou suas verdadeiras histórias.
Jack, o Estripador, matou prostitutas, ou é o que sempre se acreditou, mas não há evidências concretas que sugiram que três de suas cinco vítimas fossem prostitutas. Assim que os corpos foram descobertos em ruas ou pátios escuros, a polícia supôs que elas eram prostitutas e que haviam sido mortas por um maníaco que as atraía a esses lugares para fazer sexo. Também não há e nunca houve prova disso. Pelo contrário, constatou-se, no decurso dos inquéritos dos investigadores, que Jack, o Estripador, nunca fez sexo com suas vítimas. Além disso, no caso de cada assassinato, não havia sinais de luta e os assassinatos parecem ter ocorrido em completo silêncio. Ninguém nos arredores ouviu gritos. As autópsias concluíram que todas as mulheres foram mortas enquanto estavam em posições reclinadas. Em pelo menos três dos casos, soube-se que as vítimas dormiam na rua e, nas noites em que foram mortas, não tinham dinheiro para pagar por uma pensão. No último caso, a vítima foi assassinada enquanto estava em sua cama. No entanto, a polícia estava tão focada em suas teorias sobre a escolha de vítimas do assassino que não conseguiu concluir o óbvio: que o Estripador atacava mulheres enquanto dormiam.
Uma fonte não confiável sempre foi o obstáculo para descobrir a verdade sobre esses assassinatos. Embora existam vários registros policiais, os inquéritos dos investigadores fornecem a maior parte do que se sabe sobre os crimes em si e as vítimas. Infelizmente, em três dos cinco casos, falta a documentação oficial desses inquéritos. Tudo o que resta é uma série de matérias de jornais editadas, embelezadas, mal interpretadas e reinterpretadas, a partir das quais uma ideia geral dos acontecimentos pode ser tirada. Esses documentos foram abordados com cuidado por mim e nada contido neles foi tomado como verdade absoluta. Da mesma forma, também me abstive de usar informações sem base fornecidas por testemunhas dos inquéritos que não conheciam as vítimas pessoalmente antes de suas mortes.
Minha intenção ao escrever este livro não é caçar e apontar o assassino. Na verdade, desejo refazer os passos de cinco mulheres, considerar suas experiências no contexto de sua época e acompanhar seus caminhos pela escuridão e pela luz. Elas valem mais para nós do que os corpos humanos vazios pelos quais as tomamos: foram crianças que choravam por suas mães; foram jovens que se apaixonaram; sofreram o parto e a morte dos pais; elas riram e comemoraram o Natal. Elas discutiram com os irmãos, choraram, sonharam, sentiram tristeza, desfrutaram de pequenos triunfos. O curso que a vida delas seguiu refletia o de muitas outras mulheres da era vitoriana, e ainda assim foram tão singulares na maneira como terminaram. É para elas que escrevo este livro. Faço isso na esperança de que agora possamos ouvir claramente suas histórias e devolver a cada uma delas o que foi tão brutalmente tirado junto da vida: sua dignidade.

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